Muitos compositores iniciantes no mundo da composição de trilhas sonoras começam suas jornadas focando apenas no que é visível na tela. Ao se depararem com um personagem irritado, por exemplo, a primeira pergunta que surge em suas mentes é: "Como seria a música da raiva?" Essa abordagem, embora válida, apenas arranha a superfície do potencial da música cinematográfica.
Imagine um personagem aparentemente enfurecido. Será que ele está realmente com raiva? Ou será que ele está apenas solitário? Traído? Ou com o coração partido? Ao capturar os pensamentos e sentimentos não ditos de um personagem, a música tem o poder de se conectar profundamente com o público, muito além das emoções superficiais que são retratadas visualmente. Por isso, é fundamental que o compositor dialogue com o diretor ou roteirista do projeto, a fim de compreender o que está implícito nas entrelinhas.
O que realmente separa os compositores bons dos excepcionais é a capacidade de ir além do óbvio.
Para causar um impacto verdadeiro na narrativa visual, a música precisa falar não apenas com o que vemos, mas também com o que não vemos na tela.
Um exemplo icônico disso é a trilha sonora do filme "E.T. - O Extraterrestre" (1982), composta por John Williams. O filme de Steven Spielberg narra a história de amizade entre um garoto chamado Elliott e um alienígena perdido na Terra.
Em uma cena emocionalmente carregada do filme, Elliott e E.T. estão se despedindo antes da partida do alienígena de volta para seu planeta. A música de John Williams nesta cena não apenas reflete a tristeza e a melancolia da separação, mas também comunica o amor e a conexão profunda entre os dois personagens.
Através de uma melodia emotiva e tocante, a trilha sonora de "E.T." captura os sentimentos não ditos dos personagens, adicionando uma camada de profundidade à cena e à narrativa como um todo. A música de Williams não apenas amplifica a emoção da cena, mas também nos permite sentir a dor da despedida e a beleza da amizade que Elliott e E.T. compartilham.
Outro exemplo inspirador disso é a trilha sonora do filme "Estrelas Além do Tempo" (Hidden Figures, 2016), composta por Hans Zimmer, Pharrell Williams e Benjamin Wallfisch. O filme conta a história de três mulheres afro-americanas que trabalharam na NASA e foram fundamentais para o sucesso das primeiras missões espaciais.
As protagonistas Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson enfrentam diversos desafios e discriminação racial enquanto lutam por reconhecimento e igualdade no ambiente de trabalho.
Através de uma combinação de ritmos inspiradores e melodias emocionantes, a trilha sonora de "Estrelas Além do Tempo" captura os sentimentos não ditos das personagens, adicionando uma camada de profundidade à narrativa visual. A música não apenas amplifica a mensagem do filme, mas também nos permite mergulhar mais profundamente na jornada emocional das protagonistas, criando uma conexão mais forte e significativa com suas histórias.
Ao deixar sua música falar sobre o não dito, você não apenas enriquece a experiência cinematográfica, mas também cria uma conexão emocional mais forte entre a audiência e os personagens, elevando sua composição para um nível excepcional. Assim como a música de "Estrelas Além do Tempo" elevou a história das mulheres da NASA, sua música também pode dar voz aos sentimentos não ditos e tornar sua narrativa ainda mais impactante e memorável.
Ao analisar uma cena, pergunte-se:
O que minha música pode oferecer a essa cena que ainda não está lá? Explore as nuances da cena e do personagem.
O que esse personagem realmente está pensando ou sentindo?
Como esse momento impacta suas esperanças, sonhos, desejos ou medos?
Ao responder a essas perguntas, você começará a notar uma diferença significativa na forma como sua música impacta a cena. Em vez de simplesmente refletir as emoções visíveis, sua música se tornará um meio de capturar e expressar os sentimentos mais profundos e não ditos dos personagens, permitindo que o público se conecte de uma maneira mais autêntica e significativa.
Portanto, da próxima vez que você compor para um projeto audiovisual, lembre-se de deixar sua música falar sobre o não dito. É nessa profundidade emocional e narrativa que reside o verdadeiro poder da trilha sonora.
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